sábado, 30 de maio de 2015

Psicologia do desenvolvimento - 5ª Semana

Psicologia do desenvolvimento - 5ª Semana




Adolescência: Contextualização e problematização do tema

Caracterização história do surgimento da noção de adolescência. Questionamento sobre o lugar da adolescência na sociedade contemporânea. Puberdade.
Profª. Drª. Patrícia Junqueira Grandino


https://www.youtube.com/watch?v=EprqzzvSQ94






Adolescência é a passagem da época dos"por quês?" para os "Por quê não?"


Adolescência é uma fase de transição entre a infância e a idade adulta?


  • Mas toda fase não é transição?
  • Infância não é uma transição do feto à vida fora do útero?
  • A idade adulta não é uma transição entre a adolescência e a velhice?
É uma fase de mudanças muito repentinas?
  • Mas a infância também acontecem mudanças intensas e rápidas.
  • A adolescência é uma fase muito questionada em nossa sociedade.

Adolescência: fase "problemática?"

O que será que se esconde por trás das percepções generalizadas sobre adolescência?
  • Adolescência e os "perigos"?
  • Adolescentes e jovens estão mais expostos a riscos por sua avidez de experimentar e experimentar-se.
Entretanto, olhar a adolescência pelos problemas que se podem associar a ela, implica em reduzi-la a esteriótipos.

À guiza de conceito:

A adolescência é uma etapa singular do desenvolvimento humano, caracterizada pelo entre cruzamento de fatores individuais, sociais, históricos e culturais. 

O ingresso na adolescência é perceptível, pois na puberdade acontecem uma série de transformações físicas e psicológicas. A indefinição do tempo de duração deve-se a dificuldade de identificar quando o indivíduo deixa de ser adolescente.

São diversas as abordagens e formas de compreender e viver essa fase do desenvolvimento humano. Mais acertado seria referirmo-nos a ela no plural: Adolescências.


Origem do termo e história

O termo Adolescente tem origem no verbo em latim:
Adolescente = crescer
Adolescente = crescente 
Adulto = crescido
Infância  e adolescência são categorias construídas historicamente.
A compreensão delas, seus papéis e relevância social se alteram de acordo com as concepções de cada momento histórico.
No final da idade média e até o séc. XVIII, por exemplo, na Educação, crianças e adolescentes compartilhavam a mesma sala, sem distinção.
A adolescência emerge como conceito no final do séc. XIX e é apenas em meados do séc. XX que assume o lugar mais destacado no campo das ciências humanas.
Na década de 50 observa-se que, ao longo da história, a adolescência vem ganhando em complexidade nas suas definições e ampliando seu tempo de duração (protagonizam movimento sociais, hippies).
(Na década de 90, amplia o tempo de adolescência)
Esse "alargamento" da adolescência está diretamente ligado as mudanças sociais e econômicas que preveem maior tempo para a escolarização e preparação das novas gerações para o ingresso no mercado de trabalho e para assumirem papéis sociais dos adultos.
De modo geral, podemos dizer que durante a adolescência, se desenvolvem:
  • Autonomização - diferenciação e apropriação da identidade pessoal;
  • Assunção de responsabilidades mais complexas - internalização e apropriação de valores;
  • Integrar-se socialmente e desenvolvimento de projeto de vida
Puberdade: ingresso em novo ciclo vital
  • Mudança significativas em todos os âmbitos do desenvolvimento (bio-psíquico-social);
  • Etapa inicial de um complexo processo;
  • Amplitude de idade: mais ou menos dos 8 aos 12 anos (início) com duração média de 3 ou 4 anos.
Mudanças físicas:







                                                                                   



Adolescência: Concepções teóricas

Abordagem sintética de 3 concepções teóricas da Psicologia do Desenvolvimento (Piaget, Wallon, Abelastury & Knobel). Especificidades desse ciclo vital e compreensão de sua singularidade
Profª. Drª. Patrícia Junqueira Grandino.


https://www.youtube.com/watch?v=IKZeE2mogLQ


Fatores e aspectos determinantes do desenvolvimento humano.
Fatores indissociáveis:

  • Hereditariedade;
  • Crescimento orgânico; 
  • Maturação neurofisiológica;
  • Dimensão sócio-histórica e cultural
Aspecto indissociáveis:

  • Aspectos físico-motores;
  • Aspectos intelectuais;
  • Aspectos afetivo-emocionais;
  • Aspectos sociais e culturais.

Teoria Psicogenética de Jean Piaget

Piaget considera que o conhecimento se constrói por meio da interação do indivíduo com o meio. (não existe pensamento inato)
Suas pesquisas serviram de base para a compreensão sistemática do desenvolvimento humano.
A aquisição de conhecimento depende das estruturas cognitivas do indivíduo e de suas relações com os objetos.
Assume como princípios básicos para o desenvolvimento:
  • Mudanças qualitativas - crianças e adolescente têm modos distintos de funcionamento intelectual dos adultos;
  • Construção ativa do pesamento - o conhecimento não é inerente, mas construído pelo ser humano;
  • Descontinuidade - o desenvolvimento processa-se por etapas distintas qualitativas qualitativamente (estágios)

Mecanismo de Equilíbrio

Cada novo estágio acontece ao surgirem esquemas e estruturas mais complexas.
A aquisição de conhecimento depende das estruturas cognitivas do indivíduo e de suas relações com os objetivos (imagem 1 )

Estágios de Desenvolvimento

  • Inteligência sensório - motora (0 a 2 anos) 
A inteligência se adapta ao meio através da atividade perceptiva e atos motores.
A criança adquire o conceito de permanência do objeto (representação simbólica)
  • Inteligência pré-operatória (2 a 7 anos) 
Função simbólica e pensamento intuitivo. 

Egocentrismo - a criança considera apenas o seu próprio ponto de vista sobre a realidade.
Predomínio da imaginação e do pensamento mágico.
  • Operações completas (7 a 11 anos)
Lógica concreta
A criança desenvolve a capacidade de pensar logicamente, mas não de maneira abstrata. Utiliza esquemas de pensamento lógico, deixando o intuitivo.
Começam a desenvolver o raciocínio lógico indutivo.
  •  Operações formais ou abstratas (11 anos em diante)
Passam a deduzir conclusões a partir de hipóteses e não mais apenas da realidade concreta.
Distingue entre o real e o possível.
Sistematiza a resoluções de problemas.
Os adolescentes são capazes de pensar por conceitos, elaborar valores, aprender figuras de linguagem como metáforas e metonímias.
São capazes de flexibilizar alternativas, pensar em probabilidades, testar hipóteses.

Contribuições da Psicogenética e Henri Wallon

Coloca ênfase do desenvolvimento humano na atividade.
A ideia de diferenciação é um conceito chave na psicogenética walloniana.
O estado inicial de consciência pode ser comparado a uma nebulosa, uma massa difusa, na qual confunde-se o próprio sujeito e a realidade exterior.
A distinção entre o eu e o outro só pode se adquirir progressivamente, num processo que se faz nas e pelas interações sociais.
Princípios:
  • Predominância funcional - predomina o caráter afetivo ou intelectual a cada fase.
  • Alternância funcional - alternância do caráter afetivo ou intelectual, incorporando aspectos já integrados da fase anterior;
  • Integração funcional - extraído da maturação do sistema nervoso. Funções mais evoluídas controlam as mais arcaicas.
"A pessoa é o todo que se integra esses vários campos e é, ela própria, um outro campo funcional".

Estágios do desenvolvimento

  • Impulsividade motora e emocional ( 0 - 1 anos)
A emoção constrói uma simbiose afetiva como o entorno e está dirigida para formação do indivíduo.
  • Sensório motor e emocional (2 - 3 anos)
A atividade sensório motora tem dois objetivos: manipulação de objetos e a imitação está orientada para o exterior, para as relações e para os objetos.
  • Personalismo (3 - 6 anos)
Tomada de consciência e afirmação da personalidade na construção do eu. Orientada para o interior, para a necessidade de afirmação.
  • Pensamento categorial (6 - 12 anos)
Atividades de conquista e conhecimento do mundo exterior. Orientada para o exterior, para o  interesse pelos objetos.

Puberdade e Adolescência em Wallon

Inicia-se por volta dos 12 anos.
Contradição entre o conhecimento e o que se quer conhecer. Conflitos e ambivalência afetiva.
Está orientada para o interior: dirigida à afirmação do eu.
O adolescente expressa seus sentimentos com o corpo todo (gesticula muito, essa de mímica)
Ambivalência: alternância entre o desejo de oposição e conformismo, de renúncia e aventura, entre o desejo de atrair a atenção do outro e o sentimento de timidez e vergonha.
Experimenta necessidades novas, ainda confusas.
Eleição de novos objetos de amor.
A forma da  imaginação leva progressos intelectuais, possibilita maior conhecimento de si próprio, dos outros, da vida e do universo.
Forte identificação com seus pares e busca por ideais.

Enfoque psicanalítico: Adolescência Normal

[Arminda Abelastury e Maurício Knobel]
"[adolescência] e perturbada e perturbadora para o mundo adulto,  mas necessária, absolutamente necessária para adolescente, que neste processo vai estabelecer sua identidade, sendo este um objetivo fundamental deste momento da vida" (Knobel,1981)
Etapa decisiva no processo de desprendimento iniciado com o nascimento.
Adolescência implica na elaboração de três lutos:
  • Luto pelo corpo infantil;
  • Luto pelo papel e identidade infantis;
  • Luto pelos pais da infância
As mudanças do adolescente atualizam ansiedades básicas dos pais ( e adultos em geral).
Adolescência é mais vulnerável a sofrer os impactos de uma realidade frustante - alvo da depositação das falhas da sociedade em geral.

Adolescência idealizada

Adolescência é mitificada socialmente como tempo feliz, livre e poderoso, enquanto, ao mesmo tempo, hostilizada o adolescente e buscar retardar seu ingresso no mundo adulto.
É depositária dos desejos dos adultos, mas o adolescente real não vive (nem lhe é permitido viver) essa idealização.
O adolescente busca nos pares a proteção e reconhecimento que não encontra nos adultos.
Como efeito desse paradoxo, os adolescentes emergem como "perigosos", "ameaçadores" e propensos a riscos (ênfase social em temas despotencializadores, como a gravidez na adolescência, drogas, delinquência).





Adolescências, Juventudes

Contextualização social e distinção entre adolescências e juventudes. Relação com o mundo adulto. Dados demográficos sobre adolescentes e jovens.
Profª. Drª. Patrícia Junqueira Grandino


https://www.youtube.com/watch?v=DWWIoYpVHBA


Adolescência: sabe-se quando inicia, mas quando termina?
O que define a vida adulta?
No modo tradicional, deveria inicializar-se a vida adulta por 3 caracterização:

  • A saída da casa dos pais; formação de sua própria família;
  • Termino da escolarização;
  • Ingresso no mercado de trabalho.
Mas isso não acontece, há uma multiplicidade de viver transição, que se deve as características da sociedade, as diferentes classes sociais.

  • Adolescência- relativo ao processo amadurecimento bio-psíquico-social inicia-se com o final da puberdade e estende-se até o final do processo de desenvolvimento individual (entre 12 e 18 anos - Estatuto da Criança e do Adolescente).
  • Juventude- Categoria mais ampla, sociológica - início compreendido pela prontidão biológica sexual e reprodutiva que estende-se até a assunção de papéis sociais adultos, com a conclusão dos estudos, ingresso no mercado de trabalho e formação de nova família. (Entre 15 a 29 anos - Estatuto da Juventude)

Transições para a vida adulta

  • Não linearidade de trajetória de passagem para a vida adulta;
  • Mudança nos códigos;
  • Retração dos postos de trabalho;
  • Fragilidade nos laços relacionais.

  • Jovens "nem-nem" (nem trabalham, nem estudam)
Gênero - Observa-se certa tendência de crescimento nos últimos 10 anos entre homens e mulheres. 
Aumento significativo nos níveis intermediários de escolarização.
  • Geração Canguru (25 a 34 anos)
Em todas as regiões do país observa-se aumento da proporção de jovens vivendo com os pais na condição de filhos.

Ensino Médio

Avanço na escolaridade (geral). Em 2012, apenas 51% dos jovens tinham o ensino médio completo. Observa-se decréscimo nos anos 2011-2012, na faixa etária entre 18 e 24 anos.

Envolvimento de Adolescentes na criminalidade

  • Dados gerais sobre menores infratores: em SP entre 2010 e 2013 houve um aumento de 32,5% do nº de adolescente encarcerado.
2010 - 6.814
2013 - 9.016
  • Dos 9.016 internos na Fundação Casa 
361 (4%) são meninas
8655 (96%) são meninos 
  • Motivo de encarceramento
0,6% - homicídio
0,9% - latrocínio
41,8% - tráfico
44,% - roubo
16,6% - outros
  • Percentual por faixa etária
73,4% - 15 a 17 anos
19,3% - 18 anos
7,3% - 12 a 14 anos
  • As vítimas do tráfico
O perfil:
76% sexo masculino
75% negros
59% idade entre 15 e 17 anos
95% ensino fundamental incompleto
57% renda familiar de até 1 (um) salário mínimo
75% tem na mãe a principal referência familiar
  • Motivos da ameaça
Envolvimento com o tráfico 60%
Exploração sexual 5%
Disputa  de gangue 3%
Ameaça policial 3%
Grupos de extermínio 2%
Outros motivos 27%

  • Valor da dívida com os traficantes: de R$ 10,00 à R$ 50,00.
  • 50% são desligados do programa por fim da ameaça ou inserção social;
  • 50% fogem, não aceitam a proteção, morrem.

Morte dos jovens por Homicídios

De acordo com o mapa da violência de 2013, 67,1% das vítimas fatais de arma de fogo são adolescentes (1/3 do total de mortes na faixa etária entre 15 a 29 anos).







Relações Intergeracionais no marco do estatuto da criança e do adolescente

Marco legal do Estatuto da Criança e do Adolescente e implicação nas relações intergeracionais. Papel dos adultos – e da Educação – na formação de adolescentes e jovens.
Profª. Drª. Patrícia Junqueira Grandino

https://www.youtube.com/watch?v=sOXl6pSieto


Mudanças paradigmáticas no conceito da infância e da juventude

Criança (objeto de ação do adulto)
Normatização, disciplinarização.
                      X
Criança (sujeito de direitos)
Desenvolvimento de potencialidades, protagonismo.

Estatuto da Criança e do Adolescente

Doutrina da situação irregular (antigo código de menores).

  • "Menorismo" (Abandonados ou delinquentes).
  • Lógicas assistencialistas,higienistas,corretivo-repressoras,segregadoras.
  • Políticas sociais compensatórias
  Doutrina de Proteção Integral (ECA)
  • Criança e adolescente (pessoa em condição singular do desenvolvimento).
  • Reconhecimento e compromisso com a prioridade na garantia dos direitos.que as no
  • Políticas sociais amplas. 
De modo geral, os pais compreendem que as novas gerações tem mais liberdade, são menos responsáveis e menos obedientes do que eles próprios foram, na adolescência.

Desafios intergeracionais

Instituições da categorias do diálogo, da negociação e da discissão nos relacionamentos entre adultos, crianças, jovens, que vem substituir as da pura obediência e seu corolário, a punição.
Horizontalização das relações, maior simetria.

Adultos <--------> Crianças


Pontos de reflexão

  • As relações intergeracionais atravessam momento de transformações;
  • Os modelos que pautaram as gerações precedentes não cabem nas relações atuais;e
  • As novas gerações reivindicam reconhecimento de seus direitos e os adultos tem dificuldade em construir seus papéis de responsáveis de modo diferente do que viveram a seu tempo;
  • Os desafios de cuidados intergeracionais são de caráter relacional e surgem a necessidade de ampliação de espaços para que os adultos possam refletir  e construir novos modelos;
  • Também se confirma a indicação de que se ampliem os espaços de informação e esclarecimentos sobre os direitos da infância e da juventude, bem como sobre a atribuição dos diferentes espaços de atenção a essa população, de modo a fortalecer os pais na educação de seus filhos.

Compromisso e responsabilidade da educação

  • Investir na potência de crianças e adolescentes;
  • Investir na potência das famílias;
  • Investir no diálogo;
  • Sensibilizar e capacitar os adultos responsáveis pelo cuidado por crianças adolescentes (pais, professores,educadores sociais e demais atores comunitários);
  • Criar rede de apoio e solidariedade(escola,família,organização sociais, conselhos, entre outros).








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