Psicologia da Aprendizagem - 7ª Semana
25. Resolução de conflitos e o cotidiano escolar
A análise das situações de conflito constitui-se como uma perspectiva privilegiada para pensarmos a complexa trama tecida pela diversidade e pela subjetividade de fatores que se entrelaçam nas relações interpessoais. É nessa mesma perspectiva que reside, também, a possibilidade de ampliarmos as formas de compreensão do cotidiano escolar, escapando de explicações simplistas e reducionistas. Nessa videoaula, defenderemos tal visão, bem como apontaremos caminhos para a construção do processo de aprendizagem da resolução de conflitos.
Profª Drª. Valéria Arantes
“Não fomos preparados para compartilhar nem para resolver com agilidade e de forma não-violenta os problemas que vão surgindo em nossas relações pessoais. Não desenvolvemos a sensibilidade necessária para saber interpretar a linguagem de nossos sentimentos. Nossa razão não foi exercitada na resolução de conflitos e tampouco dispomos de um repertório de atitudes e comportamentos práticos que nos permite sair dignamente de uma situação. Nossa formação nos tornou mais hábeis para lidar com o mundo exterior que de nossa própria intimidade, conhecemos mais os objetos que as pessoas do nosso convívio”.Citação de uma Autora Espanhola - Monserra Moreno
Os conflitos na vida humana
- A maioria das teorias interacionistas em filosofia, psicologia e educação estão alicerçadas no pressuposto de que nos constituímos e somos constituídos a partir da relação direta ou mediada com o outro, seja ela de natureza subjetiva ou objetiva. O conflito é inerente do ser humano.
- Nessa relação, nos deparamos com as diferenças e semelhanças que nos obrigam a comparar, descobrir, ressignificar, compreender, agir, buscar alternativas e refletir sobre nós mesmos e sobre os demais. Varias teorias na psicologia reflete sobre o funcionamento de resoluções de conflitos e não deve ser evitado e sim estudado.
- O conflito torna-se, portanto, a matéria prima para nossa constituição psíquica, cognitiva, afetiva, ideológica e social. A escola deveria intender que os conflitos são a maior riqueza no processo de formação ético e moral do ser humano.
Conflito sim! Violência, não!
- Os conflitos podem ser um fator positivo para a mudança e crescimento pessoal e interpessoal ou um fator negativo de destruição;
- Conflito e violência baseiam-se em lógicas contrárias: no conflito, as pessoas ou grupos que se opõem buscam reforçar suas ideias e posições na relação; a violência, em contrapartida, aponta para a ruptura da relação, para a destruição do outro. Um ponto fundamental é você ter um ponto de vista e aceitar ou somar com as ideias do outro;
- Se tratados construtivamente, os conflitos podem fazer resultados positivos, melhorando o desempenho, o raciocinio e a resolução de problemas. Mais ainda, favorecendo o respeito as diferenças, a estruturação de acordos e a construção de práticas democráticas.
Os conflitos interpessoais e sua dimensão afetiva
- Como fenômenos complexos que são, a análise dos conflitos interpessoais requer o estudo da elaboração subjetiva de uma problemática social em que os afetos desempenham uma importante função.
- A análise dos conflitos interpessoais trata-se de um processo interativo e dinâmico, que não pode ser baseado em partes isoladas;
- Cada pessoa, em função de sua história pessoal, do conjunto de suas experiência, e dos valores de seu entorno cultural, constrói os papéis que julga pertinentes no estabelecimento de cada nova relação. (Noam e Fischer, 1996)
O processo de Aprendizagem da Resolução de Conflitos
- Requer práticas sistemáticas de análise de suas causas, consequências, estados afetivos, mudanças de perspectivas e elaboração de encaminhamentos para a situação enfrentada (descentrar do próprio ponto de vista; elaborar fusões criativas entre diferentes pontos de vista);
- Aprender a discernir as soluções adequadas daquelas que não o são:
- Recorrem a violência, nunca dever ser usado; (não é esperado, é indesejado)
- Não são autônomas;(não é esperado, é indesejado)
- Não incidem sobre as causas;(não é esperado, é indesejado)
- Aquelas que são “voluntariosas”;(não é esperado, é indesejado)
- Promovendo o diálogo e a participação coletiva em decisões e acordos, a resolução de conflitos torna-se um instrumento para repensar a própria cultura, a transformação dos discursos institucionais. Uma oportunidade, pois, de crescimento e desenvolvimento. Espera-se fusões diferentes de diversas perspectivas, isso é um processo excelente na busca da autonomia e do desenvolvimento.(Schinitman e Littejoln,1999).
- Nesse processo, o docente deve atuar como elemento regulador, dando visibilidade aquelas estratégias de resolução falhas e / ou inadequadas.
A resolução de conflitos e a formação ética
- Uma formação que visa à construção de valores de democracia e de cidadania deve conceder um lugar relevante às relações interpessoais;
- Concebendo os conflitos interpessoais como um conteúdo essencial para a formação psicológica e social dos seres humanos, acreditamos que o trabalho sistematizado com conflitos no cotidiano escolar seja um caminho profícuo para a construção de sociedades e culturas mais democráticas.
- Para tanto, precisamos ter coragem de mudar a educação formal e transformar os conflitos pessoais e sociais em objetos de ensino e aprendizagem.
Resolvendo conflitos, Iniciando os trabalhos com os conflitos interpessoais...
- Ao longo de nossas vidas enfrentamos a cada dia, situações que podem gerar conflitos. Tente lembrar de um conflito interpessoal que vivenciou ( direta ou indiretamente), em qualquer lugar, descreva o num papel com todos os detalhes.
- Na sua opinião, por que aconteceu esse conflito?
- O que você acha que cada uma das partes fez para que esse conflito acontecesse
- Na sua opinião, qual seria a melhor forma de resolvê-lo? Por que?
- Explique detalhadamente cada uma de suas respostas.
26. Resolução de conflitos e aprendizagem emocional
Partindo do princípio de que trabalhar a afetividade no ensino fundamental e médio, por meio da resolução de conflitos que solicitem a integração dos aspectos afetivos e cognitivos do raciocínio humano, é uma forma de promover o progresso no campo das relações interpessoais, nessa aula apontaremos caminhos e práticas escolares que transformem os sentimentos, as emoções e os afetos em objetos de ensino e aprendizagem.
Profª Drª. Valéria Arantes
A professora Valéria começa a vídeo lendo o diário de Maria e Antônio que conta um exemplo de conflito do casal, mostra os dois lados dos pensamentos.
A escola e a dimensão afetiva
- Para incorporar a afetividade no cotidiano de nossas escolas, assumimos a perspectiva do trabalho sistematizado com os sentimentos e os afetos, rompendo com aquelas concepções educacionais que fragmentam os campos científicos e cotidiano do conhecimento, as esferas pública e privada da vida, e as vertentes racional e emocional do pensamento.
- Tratar as emoções, os afetos e os sentimentos como objetos de conhecimentos pressupõe dar-lhes os mesmos status que os demais conteúdos acadêmicos que devem ser trabalhados na educação formal da mesma maneira que a matemática, a língua e as ciências, por exemplo.
- Tomar consciência dos próprios sentimentos e emoções, de forma reflexiva e dialógica, é um caminho para desenvolver, simultaneamente, a sensibilidade, o juízo e a conduta de idéias e valores, um maior conhecimento de si e dos demais com quem convivemos. Temos que criar meios onde devemos ser criativos para sair de conflitos e acima de tudo resolvê-los, e tentar pensar como o outro pensa.
O trabalho com a Resolução de Conflitos
- Os trabalhos com resolução de conflitos devem basear-se na comunicação e em práticas discursivas e simbólicas que promovam diálogos transformativos.
- Devem permitir aumentar a compreensão, o respeito e construir ações coordenadas que considerem as diferenças, que incrementam o diálogo e a participação coletiva em decisões e acordos participativos.
- Devem acreditar na importância do protagonismo das pessoas ao enfrentar os conflitos em suas vidas e entender que tal processo deve enfocar não apenas as emoções, atenções e crenças dos participantes, mas também os domínios simbólicos, narrativos e dialógicos.
27. Resolução de conflitos de gênero na escola
Nesta aula, apresentaremos uma pesquisa realizada por nós e que teve como objetivo principal desenvolver projetos e ações que privilegiassem a construção de estratégias e de valores ancorados em fundamentos de ética e direitos humanos e na igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres em situações de conflitos de gênero.
Profª Drª. Valéria Arantes
Uma experiência de Educação Moral:
- Intervenção no cotidiano da escola e de suas relações com os conteúdos educativos e com a comunidade, visando promover a compreensão das situações e dos conflitos interpessoais e de gênero cotidianos e os valores morais subjacentes às causas e às e estratégias de resolução dos mesmos;
- Busca de dados qualitativos e quantitativos que permitissem sistematizar cientificamente os resultados da investigação.
Participantes e Instrumento
- Os dados foram coletados antes e depois da intervenção pré-teste e pós-tese, com o objetivo de identificar possíveis diferenças nas estratégias utilizadas pelos estudantes para resolver os conflitos e também nos valores morais a elas subjacentes;
- A amostra foi composta por 59 estudantes (38 mulheres e 21 homens, entre 13 e 15 anos);
- Solicitamos aos estudantes que descrevessem um conflito vivido entre um homem e uma mulher;
- A partir destes conflitos os estudantes analisaram suas possíveis causas e propuseram estratégias para resolvê-los.
Um dos instrumentos utilizados nas pesquisa, visando identificar as representações dos estudantes sobre os valores subjacentes aos conflitos de gênero foi o que se segue:
- Conte um conflito vivido entre um homem e uma mulher. Pode ser um conflito que aconteceu com você ou com alguém que você conhece;
- Na sua opinião, por que esse conflito aconteceu?
- qual seria a melhor forma de resolver esse conflito? Por quê? Explique detalhadamente.
Categorias de análises 1: Os conflitos relatados
- Conflitos amorosos;
- Traição;
- Separação;
- Violência contra um homem;
- Violência entre casal;
- Violência contra mulher.
Categorias de análises 2: Em sua opinião por que esse conflito aconteceu?
- Externas ao conflito;
- Reducionistas;
- Internas ao conflito.
Categorias de análises 3: Qual seria a melhor forma de resolver esse conflito? Por quê? Explique detalhadamente.
- Não-moral;
- Mágica;
- Moral.
Algumas considerações...
- Os resultados encontrados nos permitem constatar a riqueza e a diversidade das representações subjetivas com que cada indivíduo posiciona-se diante da violência de gênero.
- Tais resultados (e outros que não trouxemos nessa aula) dão-nos indícios de que a violência de gênero tornou-se "visível" para aqueles estudantes. Acreditamos que, para além e sua visibilidade, ocorreu um processo de aprendizagem no campo de resolução de conflitos e projetos desenvolvidos pelos docentes favorecem a compreensão dos fundamentos da ética, dos direitos humanos e, em especial, da igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres.
28. Fundamentos e práticas da educação moral
Nesta aula, apresentaremos caminhos para a busca da compreensão dos processos psicológicos que podem levar os jovens a construírem valores morais que almejem a realização de projetos significativos para o self e para o mundo além do self.
Profª. Drª. Valéria Arantes
Profª. Drª Hanna Danza
Educação Moral na Escola Básica
Puig e Martin (1988): a origem da moral se situa na decisão de como queremos viver no mundo com os outros.
Portanto, a moralidade é uma escolha, uma decisão pela construção de decisão marcadas pela justiça, felicidade, dignidade, integridade.
Fundamento da Educação Moral: contribuir para que essa decisão seja o mais plenamente ativa, inconsciente e livre possível.
Perspectiva da moralidade:
- Other-regarding: referenciada na relação com o "outro". Exemplos: justiça, cuidado e solidariedade.
- Self-regarding: referenciada na relação com o "si-mesmo". Exemplos: autoconhecimento, autoestima e felicidade.
Conhecimentos sobre fatos e guias morais:
Fatos morais: conhecer os conflitos e problemas morais do presente e do passado.
Guias morais: Referências morais construídas ao longo da história, como tradições, ideologias, regras, leis, costumes sociais, personalidades de conduta exemplar, algum princípio ou comprometimento ético(ou seu contraste). Filmes, narrativas e biografias que apresentam condutas, atitudes ou formas de vida que, além de propor valores, manifestam como colocá-los em prática.
Exemplo de uma atividade que pode ser feita com alunos. Essa atividade se denomina clareificação de valores.
Narrativa sobre a biografia de Viktor Frankl, presente no livro Em busca de sentido
Leitura do capítulo: "Ir para o fio?"
Discissão sobre a atribuição de sentido à vida.
Elaboração de diagrama com elementos que sustentam o sentido de vida pessoal.
Ações Sociomorais
É, principalmente, por meio da ação que o indivíduo exercita valores, reforça valores e os reconhece como parte da sua identidade.
A construção da moralidade ocorre menos em decorrência de "lições de moral' do que de experiências morais concretas, nas quais o indivíduo vivencia consequências positivas de ações morais e as consequências negativas daquelas que contrapõem princípios éticos elementares.
Competências Psicomorais
Procedimentos psicológicos que o sujeito constrói e mobiliza diante dos conflitos morais a fim de alçar uma meta. É como um "saber fazer" moral.
- Autoconfiança;
- Empatia;
- Juízo moral;
- Compreensão crítica;
- Habilidade dialógicas;
- Capacidades emocionais e de sensibilidade.
Exemplo de atividade que trabalha as atividades psicomorais
Valores Morais
A moral, enquanto um sistema de regulação dos conflitos e contradições presentes nas relações humanas, pressupõe escolher entre o que se considera mais ou menos valioso moralmente (PUIG, 1995; Vazquez, 2012).
Tem a ver com o que é importante ou preferencial para alguém. Associados a princípios e normas de conduta desejáveis e as ideias de vida: justiça, generosidade, solidariedade, coerência, responsabilidade, amizade, cuidado, etc.
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